COE: Como Funcionam os Certificados de Operações Estruturadas

COE: Como Funcionam os Certificados de Operações Estruturadas

Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são instrumentos financeiros que misturam características de renda fixa com renda variável. Popularizados no Brasil após a regulamentação da ICVM 569/15, os COEs representam uma forma de acessar estratégias mais sofisticadas sem abrir mão da previsibi


Publicado em 24/07/2025 às 07:30.

±4 minutos, leia 898 palavras. Por Sábio


Neste artigo, vamos explicar de forma didática como os COEs funcionam, seus tipos, regras de tributação, riscos e para quem eles realmente fazem sentido.

O que é um COE?

O COE é um produto de investimento emitido por instituições financeiras. Ele combina dois componentes principais:
  1. Parte de renda fixa, que assegura a proteção total ou parcial do capital investido.
  2. Parte de renda variável ou derivativos, que busca alavancar a rentabilidade com base em ativos como ações, índices, moedas, commodities, inflação ou juros.
Na prática, o investidor aplica um valor e, ao final de um prazo determinado, pode receber:
  • O capital original (total ou parcialmente garantido)
  • Um rendimento adicional, caso determinadas condições se concretizem
Caso essas condições não se realizem, o investidor pode receber apenas o valor investido (nos COEs com capital protegido) ou até ter prejuízo (nos COEs com capital de risco).

Como Funciona a Estrutura do COE

A estrutura de um COE é montada pelo banco emissor. Veja um exemplo didático:
  • O banco pega parte do valor investido e compra um título de renda fixa que, no vencimento, garante o valor original.
  • A outra parte é usada para adquirir opções ou derivativos atrelados a algum índice (como o S&P 500, o Ibovespa ou o dólar).
Se no vencimento o índice estiver dentro de uma faixa pré-determinada, o investidor recebe uma rentabilidade acima da renda fixa tradicional. Se não, ele pode sair no zero a zero — ou perder parte do capital (em produtos sem proteção total).

Tipos de COE

Os COEs são classificados em dois tipos principais:

COE com capital protegido

  • O investidor recebe pelo menos o valor investido no vencimento, independentemente do desempenho do ativo atrelado.
  • A rentabilidade é variável e só ocorre se a condição prevista se concretizar.
Exemplo: “Você investe R$ 10 mil por 3 anos. Se o índice Nasdaq subir nesse período, você ganha 20%. Se cair, recebe os mesmos R$ 10 mil.”

COE com capital de risco

  • Existe a possibilidade de perdas parciais ou totais.
  • Costuma ter potencial de rentabilidade maior, já que o risco é mais elevado.
Exemplo: “Se a ação X cair mais de 30%, você perde parte do capital. Se subir, você pode ganhar até 50%.”

Tem liquidez?

Geralmente, não. O COE é um produto de prazo fechado, o que significa que o investidor precisa aguardar até o vencimento para resgatar o valor.
Algumas instituições oferecem mercado secundário, mas com liquidez limitada e preços que podem não ser favoráveis.

Tributação do COE

A tributação do COE segue a regra do Imposto de Renda sobre renda fixa, com base no prazo da aplicação:
  • Até 180 dias: 22,5%
  • De 181 a 360 dias: 20%
  • De 361 a 720 dias: 17,5%
  • Acima de 720 dias: 15%
A alíquota incide somente sobre o rendimento, e o imposto é retido na fonte, no vencimento do COE.
Importante: não há cobrança de IOF, e o COE não conta com proteção do FGC.

Regras da ICVM 569/2015

A Comissão de Valores Mobiliários regulamentou os COEs com a Instrução CVM nº 569, exigindo que:
  • O investidor tenha acesso a um Termo de Informações Essenciais (TIE), que resume os riscos, cenários e características do produto.
  • O produto seja claramente rotulado como com ou sem capital garantido.
  • Seja informada a possibilidade de rentabilidade nula ou perda do principal, quando aplicável.
Essa transparência é essencial, pois muitos investidores acreditam que o COE é “seguro” sem entender os riscos embutidos.

Vantagens dos COEs

  • Acesso a mercados e ativos internacionais de forma simplificada.
  • Proteção parcial ou total do capital, dependendo do tipo de estrutura.
  • Produto sob medida: o banco pode personalizar o COE com base em cenários, ativos e prazos.
  • Potencial de ganhos acima da renda fixa tradicional, sem entrar diretamente na bolsa.

Desvantagens e riscos

  • Liquidez limitada: na maioria dos casos, só é possível resgatar no vencimento.
  • Rentabilidade incerta: pode ser nula ou inferior a um CDB comum.
  • Complexidade: exige entender os cenários possíveis para avaliar se vale a pena.
  • Não possui FGC, ou seja, em caso de falência do emissor, há risco real de perda.
Além disso, muitos COEs vêm com cenários excessivamente otimistas, e o investidor pode se frustrar ao ver que a rentabilidade ficou próxima de zero mesmo após anos de espera.

Para quem vale a pena?

O COE pode ser interessante para:
  • Investidores com perfil moderado a arrojado.
  • Quem já possui reserva de emergência e busca diversificação.
  • Quem quer exposição ao exterior ou a ativos complexos, sem operar derivativos diretamente.
Por outro lado, para quem busca rendimento previsível, liquidez ou segurança, o COE pode não ser o melhor caminho.

Conclusão

Os Certificados de Operações Estruturadas oferecem um leque de possibilidades de investimento que unem a segurança (em alguns casos) da renda fixa com a flexibilidade da renda variável. Porém, entender sua estrutura, os riscos e os cenários possíveis é fundamental antes de investir.
Não caia na ilusão de que o COE é um produto “milagroso”. Ele pode ser útil dentro de uma estratégia de diversificação — mas nunca deve ser a base da carteira.
Antes de investir, leia o TIE, questione o gerente e compare o COE com alternativas como fundos multimercado, renda fixa tradicional ou até ações, dependendo do seu perfil.

Nenhum conteúdo publicado no blog Senhores deve ser interpretado como recomendação ou indicação de investimento. As informações têm caráter educativo e informativo. Investimentos envolvem riscos e podem gerar perdas financeiras. Sempre avalie seu perfil de investidor e, se necessário, consulte um profissional qualificado antes de tomar decisões.

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Sábio

Sábio

Sábio é o guardião das palavras. Com sua barba branca e olhar sereno, ele guia as ideias pelo caminho da simplicidade e da profundidade, transformando cada frase em um sopro de calma e clareza.