Apesar de pouco conhecidos pelo investidor comum, esses títulos são fundamentais para a engrenagem do agro no Brasil e vêm ganhando espaço no mercado financeiro.
Neste artigo, você vai entender o que são, como funcionam e como acessar esses ativos, além de conhecer suas principais diferenças e aplicações.
O que é o CDA?
O Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) é um título que representa a propriedade de produtos agropecuários armazenados em locais devidamente certificados, como armazéns gerais ou cooperativas habilitadas. Ele substitui o antigo Conhecimento de Depósito e é emitido exclusivamente por essas instituições depositárias, devidamente registradas.
Ou seja, quando um produtor rural deposita, por exemplo, uma carga de soja ou milho em um armazém credenciado, ele recebe um CDA. Esse documento comprova que aquele lote está armazenado em nome do produtor e pode ser utilizado em operações financeiras como garantia de crédito.
O CDA permite a circulação jurídica da mercadoria sem movimentação física. Isso é fundamental para a logística do agronegócio, já que viabiliza negociações e financiamentos sem que a carga precise ser transportada de fato.
O que é o WA?
A WA (Warrant Agropecuário) é um título de crédito vinculado ao CDA. Enquanto o CDA comprova a propriedade da mercadoria armazenada, a WA funciona como uma espécie de garantia ou penhor sobre esses produtos.
Na prática, a WA dá ao portador o direito de penhorar a mercadoria para garantir o cumprimento de uma obrigação financeira. Isso permite, por exemplo, que um produtor rural utilize sua safra como garantia em uma operação de crédito, sem vender de imediato o produto.
Importante: caso o CDA esteja vinculado a uma WA e o produtor não quite o débito garantido, o detentor da WA pode tomar posse do produto armazenado. Por isso, é um instrumento amplamente utilizado por instituições financeiras para operações de financiamento agrícola.
O que é a CPR?
A Cédula de Produto Rural (CPR) é o título mais conhecido entre os três. Criada pela Lei nº 8.929/1994, a CPR é um título representativo de uma promessa de entrega futura de produtos agropecuários. Ela pode ser emitida por produtores rurais, cooperativas ou associações e tem como objetivo antecipar recursos financeiros para viabilizar a produção.
Existem dois tipos principais de CPR:
- CPR Física: quando o compromisso do emissor é entregar fisicamente o produto no vencimento.
- CPR Financeira: quando o compromisso é pagar o valor correspondente ao produto, com base na cotação de mercado.
A CPR funciona como uma forma de antecipar receita, ajudando o produtor a obter capital de giro antes da colheita. Ao mesmo tempo, o investidor tem a oportunidade de participar dos lucros do agronegócio, geralmente com rendimentos acima da média da renda fixa tradicional.
Além disso, a CPR pode ser registrada e negociada no mercado, permitindo acesso indireto ao investidor por meio de fundos ou plataformas especializadas.
Qual a diferença entre CDA, WA e CPR?
A principal diferença entre esses títulos está em sua função no ciclo do agronegócio:
- O CDA representa propriedade de produto armazenado.
- A WA representa garantia sobre esse produto armazenado, geralmente utilizada como penhor.
- A CPR representa uma promessa de entrega futura de produto agrícola, podendo ser física ou financeira.
Enquanto o CDA e a WA se aplicam a produtos já colhidos e estocados, a CPR atua no início do ciclo, como uma promessa futura, funcionando como instrumento de financiamento à produção.
Como o investidor pode acessar esses títulos?
O acesso direto a CDA e WA é mais restrito ao produtor rural e a instituições financeiras envolvidas com operações de financiamento agropecuário. Normalmente, esses títulos são registrados em cartório ou em sistemas autorizados e utilizados como garantias em operações de crédito agrícola.
Por outro lado, o investidor pessoa física pode ter exposição indireta a esses ativos por meio de:
- Fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) com lastro em CPRs, CDAs e WAs.
- Títulos públicos ou privados emitidos com garantias baseadas nesses documentos.
- Plataformas de crowdfunding agrícola, que estruturam operações lastreadas em CPRs, oferecendo ao investidor comum a possibilidade de financiar a produção rural com aportes a partir de R$ 1.000.
Além disso, a CPR tem ganhado visibilidade no mercado financeiro digital, com a emissão sendo registrada em plataformas como a B3 ou a CIP. Isso aumenta a transparência e segurança jurídica da operação, facilitando o acesso por intermediários e investidores qualificados.
Quais os riscos e cuidados?
Assim como qualquer ativo de crédito privado, esses títulos apresentam risco de inadimplência. Ou seja, o produtor pode não entregar o produto (no caso da CPR física) ou não pagar o valor combinado (CPR financeira), e a instituição garantidora pode não conseguir executar a garantia de forma eficaz.
Outros riscos incluem:
- Risco climático, que pode afetar a produção e inviabilizar a entrega.
- Risco de mercado, com queda no preço do produto entre a emissão e o vencimento.
- Risco jurídico, especialmente se os documentos não forem registrados corretamente.
Por isso, é importante que o investidor analise os documentos da operação, credibilidade do emissor e nível de segurança jurídica antes de se expor a esses ativos.
Vale a pena investir nesses títulos?
Para o investidor que quer diversificar sua carteira e acessar a rentabilidade do agronegócio, esses títulos podem ser uma boa alternativa — especialmente via fundos ou plataformas regulamentadas. Eles oferecem isenção de IR em alguns casos, possibilidade de rentabilidades superiores à renda fixa tradicional e exposição a um dos setores mais resilientes da economia brasileira.
Contudo, é essencial avaliar o risco de crédito envolvido e compreender que esse tipo de investimento exige visão de médio a longo prazo. Não é recomendado para quem busca liquidez imediata ou segurança absoluta.
Conclusão
CDA, WA e CPR são instrumentos vitais para o financiamento do agronegócio no Brasil. Cada um deles cumpre uma função estratégica em diferentes etapas da cadeia produtiva: da armazenagem à antecipação de receita.
Embora nem sempre acessíveis diretamente ao pequeno investidor, esses ativos já estão sendo integrados ao mercado de capitais de forma mais estruturada, com mais segurança jurídica, tecnologia e transparência.
Se você deseja participar do crescimento do agro e está disposto a estudar o risco, esses títulos podem ser uma porta de entrada interessante — seja de forma direta (via plataformas autorizadas), ou indireta (via fundos e securitizações).
A nova fronteira da renda fixa está no campo.